Segundo o representante dos Estados Unidos na Organização dos Estados
Americanos, quem derruba um presidente constitucionalmente eleito pelo
crime de PROPOR uma consulta popular sobre emenda à Constituição e,
além disso, reprime os justos protestos populares e restringe as
liberdades democráticas, e quem apóia esses golpistas ainda que
dissimuladamente, são "responsáveis". Quem resiste ao golpe e luta
pelas liberdades democráticas, e quem os apóia ainda que
limitadamente, são "irresponsáveis".
A crise hondurenha está servindo para evidenciar a verdadeira
fisionomia do governo Obama, aclamado por muitos democratas
latino-americanos com expectativas exageradas pelo simples fato de o
presidente ser de cor preta e descendente de africanos, sem ponderar
na devida conta sua trajetória social e política.
A crise hondurenha está servindo também para mostrar, mais uma vez, a
cobertura despudoradamente tendenciosa e servil da mídia brasileira do
grande capital e para desnudar o caráter das grandes correntes
políticas brasileiras atuais: da direita neoliberal e, no fundo,
antidemocrática e caudatária dos Estados Unidos; do centro
social-liberal e oscilante; e da esquerda autenticamente socialista e,
por isso, democrática e antiimperialista.
Apesar de erros formais secundários que a diplomacia brasileira possa
ter cometido, a questão essencial é o apoio resoluto que precisa ser
dado à resistência hondurenha contra o golpe de Estado e à defesa
efetiva da embaixada brasileira, já atacada e agora ameaçada de ser
invadida pelo governo de fato, e não interino, de Honduras.
O Brasil foi "responsável" quando, empurrado pelos Estados Unidos e
pela França, interveio militarmente no Haiti para consolidar a
destituição e o banimento do presidente eleito Jean-Bertrand Aristide,
situação que perdura até hoje? Nesse caso, como agiu e continua agindo
com o consentimento dos Estados Unidos e sob a bandeira da ONU, o
Brasil não está intervindo nos assuntos internos de outro país? O
Brasil foi "responsável" quando, algumas décadas atrás, precisamente
em 1965, de comum acordo com os Estados Unidos e sob a bandeira da
OEA, enviou tropas à República Dominicana para ajudar a derrotar o
movimento democrático e nacionalista liderado pelo coronel Camaño após
a derrubada e a morte do velho ditador Trujilo? Como sempre, os
Estados Unidos e seus aliados se valem de dois critérios, de acordo
com seus interesses, e não têm dificuldade para encontrar juristas e
jornalistas bem remunerados que justifiquem formalmente seus atos.
0 comentários:
Postar um comentário