Base Manoel Alves Ribeiro (MAR)
Partido Comunista Brasileiro
Florianópolis/SC.

O CONSELHEIRO LARANJA E O MINISTRO

Por: Laerte Braga


O presidente nacional do PPS – Partido Popular Socialista (?) –
Roberto Freire fez declarações a jornalistas em São Paulo pedindo o
afastamento do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e
alegando como razão para seu pedido, de seu "partido", o fato de
Amorim ter se filiado ao PT.

Segundo Roberto Freire a política externa do Brasil está acima de
partidos e ao se filiar a um partido Celso Amorim compromete o País
num momento delicado. Referia-se ao abrigo dado pelo Brasil ao
presidente constitucional de Honduras Manuel Zelaya na embaixada
brasileira em Tegucigalpa.

Roberto Freire foi deputado federal pelo MDB eleito a partir de 1970 e
até 1994, quando foi eleito senador. Em 2002 voltou à Câmara por falta
de votos para reeleger-se senador (por pouco não perde as eleições
para deputado federal em seu estado original, Pernambuco).

Hoje, cidadão paulista (parte do território brasileiro seccionada por
organizações estrangeiras como PSDB, DEM. FIESP/DASLU), garante a
sobrevivência com a aposentadoria integral do Instituto de Pensão e
Aposentadoria do Congresso Nacional e um jabá de doze mil reais numa
estatal paulista para funcionar como laranja do governador José Serra
em seus projetos presidenciais.

Freire é a pior espécie de político que se pode conhecer. Quando
eleito deputado federal pela primeira vez, em 1970, no MDB, integrava
os quadros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O caráter de frente
política que caracterizava o MDB permanece em linhas gerais no PMDB,
hoje.

Em 1989 Roberto Freire candidatou-se a presidente da República e
empolgou determinada parcela da opinião pública, classe média
inclusive, já no Partido Comunista Brasileiro.

Todas as vezes que era perguntado sobre o processo de privatizações
que começava a ser montado no Brasil a partir de interesses
estrangeiros e do neoliberalismo, respondia que a primeira coisa a se
fazer "é desprivatizar o Estado". Ou seja, não se podia privatizar o
que já era privado, o Estado brasileiro.

Perdeu, mas conseguiu projeção nacional. Foi líder do governo Itamar
Franco na Câmara e senador em Pernambuco por conta de uma aliança
partidária quase imbatível que elegeu Miguel Arraes governador daquele
Estado.

Nesse meio de caminho e antes de virar senador, Roberto Freire
convocou um congresso do PCB e propôs a transformação do partido em
PPS. Por via das dúvidas, já que manobrava atendendo a interesses
pessoais e dos grupos pelos quais fora cooptado (os tucanos,
particularmente FHC), tentou segurar na Justiça a "propriedade" da
sigla PCB.

Não conseguiu. Verdadeiros comunistas infensos ao canto da sereia de
tucanos, recobraram a sigla e retomaram aos caminhos da luta no que
hoje é o que sempre foi, o Partido Comunista Brasileiro. Um partido
identificado com os princípios marxistas, voltado para a luta popular
e distante desse mundo podre da política institucional tal e qual se
pratica no Brasil, pratica Roberto Freire.

As declarações de Roberto Freire não foram produto de sua vontade, ou
do seu entendimento, ou do entendimento do seu partido (até porque ele
decide sozinho, é dono do partido). Foram decididas no núcleo que
sustenta e comanda a campanha de José Serra à presidência em 2010.

Parênteses, para explicar que Roberto Freire, como senador, foi um dos
principais articuladores do governo FHC na condução das privatizações,
das reformas determinadas pelo FMI e Banco Mundial, aquele negócio de
"desprivatizar o Estado" era boutade de campanha.

O que Roberto Freire ignorou ao falar como laranja de um esquema,
muito bem remunerado, não se esquecendo doze mil por mês, foi que ao
longo da história dos vários governos brasileiros, boa parte dos
ministros das relações exteriores tinha filiação partidária.

No governo de Getúlio, Osvaldo Aranha era filiado ao PTB (antigo, não
esse arremedo de hoje) e chegou a ser presidente nacional do partido.
Com JK os ministros Macedo Soares, Negrão de Lima, Sette Câmara eram
todos filiados ao ex-PSD. Afonso Arinos Mello Franco, ministro de
Jânio Quadros e de um gabinete parlamentarista de João Goulart, era
filiado a antiga UDN e, o pior de todos os esquecimentos.

Fernando Henrique Cardoso, ministro das Relações Exteriores do governo
de Itamar Franco era e é filiado ao PSDB (tucanos).

A exceção de FHC, todos os outros chanceleres citados acima eram
homens dignos, de caráter, íntegros no trato da coisa pública e a
filiação partidária não os impediu de colocar os interesses nacionais
acima de interesses partidários ou pessoais, ao contrário de FHC, que
usou o governo de Itamar como plataforma para o projeto neoliberal no
Brasil a partir de agências e governos estrangeiros, caso da
vinculação de FHC à Fundação Ford.

Esse sim, canalha, vendeu o Brasil. E com o voto de Roberto Freire,
inclusive a favor da reeleição comprada a peso de ouro.

O ministro Luís Felipe Lampreia do governo FHC, por quase sete anos no
Itamaraty, ou mais de sete anos, ao sair do cargo virou consultor de
empresas privadas e o recente escândalo envolvendo a embaixatriz Lúcia
Flecha de Lima em um caso de negócios com o senador ACM, mostrou como
atuava o lobby de empresas privadas no governo do tucano e em muitos
casos no Itamaraty. Foram vários os contratos obtidos pela OAS (Obras
do Amigo Sogro), de um ex-genro de ACM nos países onde o marido de
Lúcia era embaixador e com a participação direta do chanceler
Lampreia.

Hoje, consultor, se vale das ligações e contatos que construiu no
governo para continuar fazendo a mesma coisa.

Lampreia não tinha filiação partidária, é de carreira do Itamaraty.

Como se vê, a questão da filiação partidária de um ministro, qualquer
que seja ele, não implica em ter mais ou menos caráter. Lampreia não
tem nenhum, é agente de interesses estrangeiros no Brasil. Celso
Amorim resgatou a política externa brasileira e conferiu ao País um
respeito que não tinha no governo FHC. É só lembrar o chanceler que
substituiu Lampreia, Celso Láfer. Submeteu-se a uma revista no
aeroporto de New York, inclusive tirando os sapatos no período de
paranóia de Bush com atentados. Ou seja, caiu de quatro.

O problema de Roberto Freire é que o ex-senador, ex-deputado e agora
conselheiro laranja de Serra, numa estatal paulista qualquer,
esqueceu-se da História. Rompeu seu compromisso com a História et por
cause com qualquer princípio de dignidade ou respeito que chegou a
merecer num determinado momento. Jogou fora a História e continua
jogando fora sua história.

Declarações mesquinhas, pequenas, típicas de menino de recado.

Há uma diferença sem tamanho entre o ministro Celso Amorim, Chanceler
com letra maiúscula e aqueles aos quais Roberto Freire está
acostumado. Amorim nem cai de quatro e nem tira o sapato. E nem é
laranja de ninguém por conta de doze mil reais por mês.

E um detalhe típico de políticos destituídos de qualquer princípio que
não seja o venha nós, naquele negócio de armar para sobreviver.
Roberto Freire é suplente de senador de Jarbas Vasconcelos, do
PMDB/tucano. O acordo era Jarbas ser eleito prefeito de Recife e
Roberto, mesmo sem votos, voltar ao Senado. Fracassou. Aí o jeito foi
virar conselheiro a doze mil reais por mês numa estatal do governo
Serra. Coisa de pilantra mesmo.

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