Tristeza, indignação e sei lá mais o que!
Luiz Rodolfo Viveiros de Castro (Gaiola)
É com muita tristeza, mas tanta, tanta, que suplanta a indignação, que quase me paralisa – e para tentar não ficar parado tento escrever para vocês.
Acabei de entrar agora no globo.com, pensando em ver os resultados do futebol. Já sabia que meu time tinha perdido para o Barueri e que o Flamengo tinha ganho do Náutico; queria saber como foi para o Flu e para os adversários diretos na luta contra o rebaixamento do meu Botafogo. Mas que futebol, que nada. O que importa estar na primeira ou na segunda divisão?
Antes de ir para a parte de esportes me deparei com uma chamada para a matéria sobre o encontro do Lula com o líder da oposição na Itália, o representante da esquerda (?) moderna (?), Massimo D'Alema, que pediu pela extradição do Cesare Battisti.
Não quero nem comentar a matéria toda, dá nojo. Mas aí vai somente um trecho: Lula, ao saber que Battisti estava fazendo greve de fome, brincou: "Eu diria a ele para não fazer greve de fome, eu já fiz e é ruim".
Não sei o que fazer, não sei o que propor, mas quero pedir pra todos – sobretudo para os que estivemos presos – temos que fazer alguma coisa.
Battisti teve a mesma militância que nós, na mesma época. Vivemos num mundo em que o Régis Debray – que caiu na guerrilha do Che na Bolívia – foi ministro da Cultura na França, em que o Franklin Martins, o nosso Franklin, participou do sequestro do embaixador norteamericano: se não contam as motivações políticas, sequestro seria crime hediondo, Não é? Pois é, querem – o governo fascista da Itália – pegar o Battisti como bode expiatório.
Acho que todos conhecem o caso e o processo, mas nunca é demais lembrar que ele foi julgado à revelia, defendido por um advogado a quem nunca deu procuração para tal (e que ficou comprovada a falsificação de sua assinatura na constituição deste rábula) e as únicas "provas" são as acusações de um ex-militante que aceitou a delação premiada, provavelmente até pensando, naquela época, que pelo fato de Battisti estar fora do país podia jogar a culpa nele.
O ministro relator do caso disse que o Brasil devia extraditá-lo mas sem aceitar a prisão perpétua que não existe aqui; temos que exigir da Itália que a pena seja reduzida para 30 anos. Ora, o Battisti tem 65 anos, qual é a diferença? Vai sair com 95?
Sei lá, só sei que se não fizermos nada, nem que seja chorarmos juntos, seremos cúmplices diretos. Pois neste caso a injustiça, no meio de tantas, a perda de uma vida, no meio de tantas perdas, está ocorrendo pertíssimo de nós, com um dos nossos.
Em tempo: os suicídios recentes de presos políticos nos cárceres italianos, acho que foram 14 nos últimos tempos.
Despeço-me dizendo que concordo com a declaração de Battisti – que o Lula deve ou deveria ter lido, sobre a greve de fome – dizendo que prefere morrer fazendo greve de fome do que nas mãos de seus algozes italianos fascistas.
Saudações tristes, revoltadas e sei lá mais o que!
Gaiola
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