Base Manoel Alves Ribeiro (MAR)
Partido Comunista Brasileiro
Florianópolis/SC.

Nota de repúdio à diretoria da União Catarinense dos Estudantes (UCE)

Nota de repúdio à diretoria da União Catarinense dos Estudantes (UCE)

O Diário Catarinense (jornal conservador de maior circulação no estado de Santa Catarina) anunciou no dia 10 de outubro de 2008 que "Amin recebeu na quarta feira o apoio da União Catarinense dos Estudantes (UCE). Ontem o apoio foi formalizado". Esperidião Amin (PP) concorre com Dário Berger (PMDB) o cargo de prefeito de Florianópolis, a capital catarinense.

Não é estranho, por várias razões, que a atual diretoria da UCE tenha tomado esta postura.

Em primeiro lugar, composta por vários grupos políticos de direita e hegemonizada pela UJS/ PC do B que preside a entidade, a atual diretoria foi eleita no último congresso estadual de estudantes a base de um golpe. O congresso havia sido convocado apenas com fins estatutários e ao final também realizou eleições para diretoria, não fazendo, assim, o debate na base sobre a sucessão da UCE.

Em segundo lugar, o PC do B já estava anunciando as possibilidades de apoio a Amin em Florianópolis. De acordo com Aldo Rebelo 'Florianópolis é um segundo turno mais complicado: concorrem PMDB e PP, nenhum dos dois é de esquerda, porém os dois são do campo de Lula. Vamos ter que ter uma sintonia fina' (Vermelho, 6 de Outubro, em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=44496 ). Dias depois o PC do B declara: “Em Florianópolis, como decorrência da polarização do primeiro turno, o PC do B prosseguirá na linha de oposição à reeleição do atual prefeito [Dário Berger] e buscará examinar condições para apoio à candidatura que objetivamente se apresenta em alternativa, particularmente no tocante a pontos programáticos defendidos pela candidatura de Ângela Albino. (Sobre as posições do PC do B no segundo turno, 9 de outubro, em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=44731).

Em terceiro lugar, a UCE há muito tempo, dirigida por estes grupos, está afastada da luta pela transformação das universidades fundacionais do Sistema Acafe em públicas e gratuitas, devido ao seu suposto caráter comunitário, filantrópico e sem fins lucrativos. Pelo contrário, tem defendido políticas que interessam aos empresários da Educação, tanto nas fundacionais (cujos administradores lucram cada vez mais), quanto nas públicas que vivem um violento processo de privatização.

Em quarto lugar, a UCE não tem sido um instrumento de luta dos estudantes, mas sim um aparelho destes grupos políticos que a usam para interesses próprios, principalmente, como “trampulim” para carreiras políticas personalistas e com interesses privados em todos os sentidos.

Assim sendo, não é de surpreender que a atual diretoria da UCE tenha tomado esta postura de apoio à candidatura Amin, sem antes sequer consultar os estudantes. Mas muito estranho seria, por motivos óbvios, é se os estudantes ficassem quietos diante desta situação.

A atual diretoria da UCE está manchando a história desta entidade. A União Catarinense dos Estudantes foi uma das protagonistas na luta contra a ditadura militar, assim como na luta pela universalização da Educação Superior pública, gratuita e voltada aos interesses do povo. Esta sua combatividade levou a prisão e perseguição de vários estudantes no regime militar. Contudo, é com o orgulho que podemos dizer que estudantes catarinenses foram protagonistas na Novembrada (1979), uma manifestação estudantil popular contra a presença de Figueiredo em Florianópolis, que repercutiu em todo o país, somando imensa força para derrubar a ditadura.

Agora que a UCE apóie nada mais e nada que Esperidião Amin - um dos políticos mais conservadores de Santa Catarina - é inaceitável. A foto histórica de Amin junto ao general na cabeceira da ponte Colombo Salles não é somente simbólica. Ele não apenas apoiava a ditadura, como entre as duas vezes que foi governador de Santa Catarina e outras duas, prefeito de Florianópolis, na gestão 1975 – 1978 ele foi nomeado interventor pela ditadura militar. Ou seja, a UCE hoje apóia para prefeito de Florianópolis quem já foi prefeito biônico da ditadura nesta mesma cidade.

Amin foi senador entre 1991 e 1999 e presidente nacional do PP. O Partido Progressista (PP) também tem seu surgimento na ditadura. Como sabemos, neste período totalitário apenas dois partidos foram permitidos, a ARENA e o MDB. A ARENA era o partido dos militares, com o fim do regime foi transformado em PDS, depois em PPR, depois em PPB e por último em PP. Enfim, a UCE hoje apóia o candidato do partido da Ditadura Militar, à qual esta mesma entidade lutou contra no passado.

Qual deve ser a justificativa dos diretores da UCE para declarar este apoio? Amin mudou? A ditadura acabou e não se fala mais nisto? Não apenas Amin não mudou como a estrutura social de dominação dos mais ricos sob os mais pobres continua a mesma, os grupos econômicos dominantes da época são os mesmos. Tanto que até hoje os torturadores estão anistiados e arquivos da ditadura ainda não foram abertos. Esperidião Amin, assim como Dário Berger, é da classe burguesa e para ela trabalha. As políticas de privatização da saúde, da educação, do transporte, da previdência e outros serviços públicos, assim como a intensificação da exploração da classe trabalhadora, através do aumento da carga de horário de trabalho, da terceirização dos serviços, etc., crescem a cada dia mais no estado de Santa Catarina, e são defendidas tanto pelo PMDB quanto pelo PP. Enfim, substancialmente não existe diferença entre estes grupos e, portanto, não há apoio que se justifique.

Contudo, o problema não é apenas este. A UCE como entidade que supostamente deveria ser de todos estudantes catarinenses deve ser autônoma e independente. O apoio declarado a determinado candidato põe no lixo estes princípios e expressa o aparelhamento da entidade por grupos particulares e com fins privados.

Se o PC do B (partido que também lutou contra ditadura) hoje apóia filhotes da ditadura militar, fazendo a política da direita, é problema seu, embora, seja um contra-censo histórico. Mas isto não lhe dá o direito, como a nem outro partido, ou grupo, ou individuo de aparelhar uma entidade de massa (no caso de estudantes), visando cargos ou outros interesses.

Diante de tudo isto, conclamamos a todos estudantes a repudiarem a postura da diretoria da UCE num sentido de não aceitar mais este tipo de política e lutar para trazer a UCE de volta para a luta.


Assinam a moção:

Juventude Avançando (JA)

União da Juventude Comunista (UJC)

Santa Catarina, 11 de outubro de 2008

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