Base Manoel Alves Ribeiro (MAR)
Partido Comunista Brasileiro
Florianópolis/SC.

PCdoB apóia Amin do PP, antiga ARENA, em Florianópolis.

Eric ToussaintPCdoB apóia Esperidião Amin do PP, antiga ARENA, no segundo turno da eleição à prefeitura de Florianópolis/SC - 2008.


A tática de vestir os lobos com pele de cordeiro.


Dario da Silva*


ARENA (Aliança Renovadora Nacional) foi criada em 1966, já foi rebatizada de Partido Democrático Social - PDS, Partido Progressista Renovador - PPR, Partido Progressista Brasileiro - PPB e atualmente Partido Progressista – PP. Separou-se do antigo nome, mas não de seus antigos ideais, menos ainda dos ideais da origem mais remota, a velha UDN - União Democrática Nacional.


Na resolução da CPN, com muito melindre, o PCdoB declara apoio à antiga ARENA do candidato Esperidião Amin[1]. Com uma retórica escorregadia, nem chega a nominar o partido ou o candidato, trata apenas como a "candidatura que objetivamente se apresenta em alternativa":




"9. Em Florianópolis, como decorrência da polarização do primeiro turno, o PCdoB prosseguirá na linha de oposição à reeleição do atual prefeito e buscará examinar condições para apoio à candidatura que objetivamente se apresenta em alternativa, particularmente no tocante a pontos programáticos defendidos pela candidatura de Ângela Albino." (A Comissão Política Nacional São Paulo, 9 de outubro de 2008.)[2]



Não que o outro candidato, Dário Berger e seu partido (ex-PFL, hoje no PMDB), mereçam qualquer apoio. Berger ficou mais conhecido após "Operação Moeda Verde”[3] da PF. O atual prefeito e candidato a reeleição, dispensa comentários. Uma candidatura conservadora, representante legítima da classe burguesa!


Eis o modo de proceder do PCdoB, mudar os nomes para disfarçar as substâncias. Como num "passe de mágica" o fascismo é renomeado para "candidatura que objetivamente se apresenta em alternativa" e dai por diante passa-se a tratá-lo como uma "nova" força política. Com esse modus operandi a clássica passagem de Marx "Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo"[4] nada mais representa, agora tudo se pode fazer vestindo lobos com pele de cordeiro. Muda-se o nome de capitalismo para "mudancismo" e a revolução está feita!


Em outro artigo publicado no "Vermelho" Altamiro Borges qualificou a tática do PCB de "errática",:




"O PCB, por sua vez, manteve a sua trajetória errática e preferiu demarcar posições, lançando candidatos próprios" (Altamiro Borges: Acertos e erros das esquerdas na eleição 2008)[5]



Perceba que o Altamiro personifica a o "espírito fetichista" do PCdoB (e a "autoridade" política-ideológica que lhe confere seu "coerente" partido) para colar a etiqueta "trajetória errática" no PCB, no intuito de macular o seu conteúdo. Uma explicação alternativa seria a reconceituação da expressão "trajetória errática", significando o oposto da do PCdoB, dado que não estamos apoiando a antiga ARENA de Amin, nem aliados ao brittismo[6] de Rosado e companhia no RS[7], para não nos estendermos muito. Portanto devemos entender que Altamiro considera autêntica postura comunista o qualificativo "trajetória errática".


Conforme assinalado muito bem em nota divulgada recentemente pelo PCB:




Não fizemos qualquer concessão ao oportunismo, à demagogia, à mistificação e às ilusões de classe. Mostramos ao povo que é impossível “humanizar” ou “reformar” o capitalismo (...) Quanto ao segundo turno, que se dará em 29 dos municípios com mais de 200.000 eleitores, na maioria deles o PCB certamente se absterá de apoiar qualquer candidato, pois as disputas serão no campo conservador.[6]



Quanto ao "apoio à candidatura que objetivamente se apresenta em alternativa" apenas reafirma o já conhecido oportunismo de sempre, que caracteriza o PCdoB. Que "surpresa"!


Para completar a tragicomédia, ocorre que também os "Partidos da Ordem" (Marx), aqueles cujo objetivo não é a emancipação do proletariado e sim a "administração" do estado burguês, estão sujeitos à ver seus intentos malogrados, mesmo com suas manobras oportunistas, não está garantida a conquista de seu rebaixado fim. No RGS, para usar uma expressão regional "deram com os burros n'água" (insucesso), como escreveu Cristóvão Feil:



"O brittismo manteve os ovos de sua serpente em duas cestas, no fogacismo (...) e no manuelismo"... "O PPS usou a legenda do PCdoB, passou mel na vaidade pessoal de Manuela, e arrancou com vitória as eleições 2008: Fogaça, seu candidato do coração, chegou em primeiro, e conseguiu emplacar três vereadores na Câmara. Com míseros 842 votinhos na legenda. O PCdoB fez 14.796 votos na legenda e não colocou nenhum representante na Câmara. Desastre total"[9].


O que Feil não disse é que tal postura da candidato Manuela está em plena consonância com seu partido (PCdoB), satélite do PT no plano nacional[10] e no sul da Brasil, da Arena e do brittismo.


Certos "comunistas", em nome da "ousadia"[11], repetem erros antigos, equívocos historicamente resolvidos em debates como de "O Estado e a Revolução" (Lênin) e "Reforma ou Revolução" (Luxemburgo). Abandonar a revolução para se aferrar às reformas, além de conduzir o povo ao engano, pode não garantir as próprias reformas. Partidos que rebaixam sua estratégia à mera disputa de eleições, podem inclusive perdê-las e quando ganham pouco podem fazer, pois estão comprometidos com as classes dominantes. Exemplos não faltam, a Segunda Internacional, os governos social-democratas europeus, o governo Lula.



Veja o vídeo no YouTube: http://br.youtube.com/watch?v=fvdnNYRJbq4



Leia também:
"A PETROBRÁS E AS DIFERENÇAS ENTRE PCB E PCdoB" e
"A tragédia da social-democracia retardatária no Brasil"


* Economista e miltante do PCB em Florianópolis/SC.


NOTAS:_____________________________________________________[1] Foi por duas vezes governador do estado de Santa Catarina e também prefeito de Florianópolis por duas ocasiões: entre 1975 e 1978, nomeado pelo governo militar. Em 1989, no segundo turno, Amin e o PDS apoiaram a candidatura à presidência de Fernando Collor, que foi eleito e sofreu impeachment em 1992. Em 1994, concorreu à presidência da República. Em 1998, foi eleito governador de Santa Catarina. Em 2002, tentou a reeleição, mas perdeu para Luiz Henrique da Silveira no segundo turno. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Esperidi%C3%A3o_Amin_Helou_Filho.

[2] Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=44731
[3] Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u336961.shtml
[4] Karl Marx, 11ª tese sobre Feuerbach; "Thesen über Feuerbach" (1845).
[5] Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=44660
[6] O termo brittismo faz referência ao grupo político que deu suporte ao governo de Antônio Britto (1995-1998) no RGS, na época ainda pelo PMDB. Na onda de privatizações da era FHC, levou a cabo a privatização das grandes autarquias de serviços públicos do estado, a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT, telefonia) e a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE, energia elétrica). Contava com Berfran Rosado (http://www.berfran.com.br/) como secretário do Trabalho. Britto foi derrotado em sua tentativa de reeleição, passou a trabalhar na iniciativa privada, como consultor junto ao grupo Telefonica de Espanha, o que levou a "suspeitas" de favorecimento na privatização da CRT, em 1997. Em 2001, ainda cotado como preferido para a sucessão de Olívio Dutra, Antônio Britto entrou em choque com o senador Pedro Simon, principal liderança regional do PMDB, e acabou saindo do partido. Filiou-se então ao PPS, junto com sua base de apoio (inclusive Berfran Rosado), e lançou-se à sucessão estadual de 2002, em aliança com o PFL. Berfran Rosado (PPS), aliado político do ex-governador Antônio Brito e da governadora Yeda Crusius (PSDB), foi candidato a vice de Manuela D’Ávila (PCdoB) à prefeitura de Porto Alegre (2008).
[7] "Depois de ter ficado dividido entre apoiar o prefeito José Fogaça (PMDB) ou indicar o vice na chapa da deputada federal Manuela DÁvila (PC do B), o PPS confirmou ontem a opção pela última alternativa na briga pelo comando da Capital". Fonte: http://www.clicrbs.com.br/eleicoes2008/jsp/default.jspx?uf=&local=&action=noticias&id=1976807&section=Not%EDcias
[8] "Impressões preliminares sobre o processo eleitoral". Fonte: http://pcb-campinas.blogspot.com/2008/10/impresses-preliminares-sobre-o-processo.html
[9] Fonte: http://diariogauche.blogspot.com/2008/10/manuela-atitude-dvila-foi-uma-piada.html
[10] "O RESULTADO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS, O PCB E A ESQUERDA". Fonte: http://pcb-campinas.blogspot.com/2008/10/o-resultado-das-eleies-municipais-o-pcb.html
[11] "O Comitê Central do Partido Comunista do Brasil definiu como linha política central dos comunistas a ousadia. Não que o PCdoB não seja, já há muito tempo, um partido ousado. Certamente o é, e não faltariam exemplos para demonstrar isso. Mas dada a novidade e o novo patamar de qualidade em que tem se dado a participação dos comunistas na institucionalidade, notadamente o último resultado eleitoral, fica claro que o Partido tem condições e camaradas qualificados para ousar mais, assumindo concretamente espaços no atual Estado de Direito Democrático". Fonte: http://www.wladimir.com.br/40/index.php?option=com_content&task=view&id=61&Itemid=41

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